sábado, 5 de maio de 2007

Parteiras asseguram mais de 27 mil partos por ano nos hospitais e nos domicílios


Não gostam que lhes chamem parteiras. A expressão está colada às "habilidosas" que, sem formação, com saber de experiência feito, garantiam partos em casa

A lei refere-os como enfermeiros especializados em saúde materna e obstetrícia. É um nome longo, muito longo. Para encurtar, auto-intitulam-se enfermeiros obstetras. Parteiro (a) é que não. A velha expressão carece de conotação positiva, reconhece Dolores Sardo, presidente da Associação Portuguesa dos Enfermeiros Obstetras (APEO).
O pormenor não impede a APEO de hoje celebrar o Dia Internacional da Parteira, instituído em 1992 pela International Confederation of Midwives (ICN), estrutura que agrega 85 associações de parteiras de 75 países. Fê-lo pela primeira vez no ano passado, na Póvoa de Varzim. Este ano, elege Viseu, cidade que acolheu ontem e anteontem o encontro anual de profissionais da área.
"Fala-se como se as parteiras já não existissem, mas existem - estamos aqui para dizer que existimos", enfatiza Sardo. São mais de 1700. De onde vem esta espécie de vergonha pela expressão parteira? "O nome não é cultural e socialmente aceite", responde. Está colado à imagem das "habilidosas"­- mulheres desqualificadas, com saber de experiência feito, que, à falta de assistência especializada num Portugal atrasado e miserável, garantiam partos ao domicílio.
Já lá vai o tempo em que a realidade era dominada por "habilidosas" e as parteiras profissionais cumpriam apenas o 2º ano do ciclo e uma curtíssima formação numa faculdade de Medicina. Há muito que se exige um curso de enfermagem e uma especialização. São seis anos a estudar. A actividade profissionalizou-se, mas não beneficia de margem de manobra. Um enfermeiro obstetra, nota a dirigente associativa, nem sequer tem autonomia para admitir parturientes na sala de parto. Embora esteja apto a "fazer a vigilância pré-natal, a preparação para o parto, o parto" e precise de solicitar intervenção médica "apenas quando há complicações".
A assistência materno-infantil mudou muito nas últimas décadas. Entre 1965 e 1995, o parto hospitalar passou de apenas um quarto para a quase totalidade. Mas mesmo dentro dos hospitais há muitos partos realizados sem médico obstetra. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam 108885 nascimentos hospitalares em 2005, 81676 assistidos por médico, 27019 assistidos por enfermeira parteira, 190 assistidos por enfermeira não parteira.
Ainda de acordo com o INE, em 2005 apenas 481 partos realizados em Portugal ocorreram no domicílio. Alguns por "acidentes" - a criança nasceu em casa ou na ambulância, porque não houve tempo para chegar ao hospital. A maior parte por opção. Basta ver que 280 foram assistidos por um médico, 66 por uma enfermeira parteira, cinco por uma enfermeira não especializada. Os nascimentos sem assistência somam 26. Há cinco por especificar. A taxa de mortalidade infantil portuguesa, essa, é das mais baixas do mundo. E as parteiras orgulham-se disso.


05.05.2007, Ana Cristina Pereira
publico.pt

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