quinta-feira, 5 de abril de 2007

Enfermeiros e médicos estão contra administração de vacinas nas farmácias

O anúncio de que as farmácias vão poder em breve administrar vacinas não incluídas no Plano Nacional de Vacinação (PNV), ontem feito pelo ministro da Saúde na conferência anual do Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed), foi recebido com muitas críticas, apesar de estar contemplado no acordo que Correia de Campos assinou há quase um ano com a associação do sector.
Representantes das ordens profissionais dos médicos e enfermeiros manifestaram-se rotundamente contra esta possibilidade. O vice-presidente da Ordem dos Enfermeiros, Jacinto Oliveira, lembrou um parecer da própria Entidade Reguladora da Saúde de Agosto de 2006 sobre a matéria. "Neste momento, por regra, as farmácias não dispõem nem dos equipamentos nem dos recursos humanos à prestação destes serviços", lê-se. A "administração de vacinas, embora possa parecer um acto simples, pode ter implicações graves que necessitam de cuidados especializados", acrescentava.
Até agora, as vacinas não incluídas no PNV - nomeadamente contra a gripe sazonal - podiam ser adquiridas nas farmácias, mas não podiam ser ali administradas. A medida já constava, porém, do Compromisso com a Saúde assinado entre o Ministério da Saúde e a Associação Nacional de Farmácias em Maio de 2006. O documento prevê que as farmácias passem também a poder administrar medicamentos e a prestar primeiros socorros e a ter meios auxiliares de diagnóstico e terapêutica.
O responsável da Ordem dos Enfermeiros defende que é necessário mudar a lei actual, porque as vacinas não se incluem na prestação de "actos farmacêuticos". Serão ainda precisos gabinetes com condições nas farmácias e profissionais "qualificados", onde se incluem enfermeiros e médicos. Já Guadalupe Simões, do Sindicato dos Enfermeiros de Portugal, considera que a medida configurará "uma usurpação das competências dos profissionais que estão perfeitamente regulamentadas".
Aranda da Silva, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, contrapõe que já há um número reduzido de farmácias onde, com autorização especial prevista na lei, se dão vacinas. O maior impacto deverá notar-se nas farmácias em zonas com maiores dificuldades de acesso aos centros de saúde. Reconhece que será precisa a contratação de profissionais qualificados, mas nota que "há farmacêuticos com qualificação em administração de fármacos". Também o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, manifestou reservas em relação a esta medida, defendendo que a administração de vacinas deve sempre ser feita sob controlo médico. Um "preciosismo", na opinião de Jacinto Oliveira, notando que ele se "esquece que a administração de vacinas nos centros de saúde já é feita pelos enfermeiros".



05.04.2007, Alexandra Campos e Catarina Gomes
publico.pt

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